Seria a idade avançada que desgastou grandes novelistas?

O Brasil sempre foi celeiro de grandes autores de novelas. Desde a década de 60, com Glória Magadan, passando posteriormente a nomes como Janete Clair, Dias Gomes e Ivani Ribeiro, responsáveis por os primeiros grandes sucessos nas novelas brasileiras. Estes, infelizmente, nenhum estão vivos atualmente.

Foto: Gshow

Partindo de outra geração mais recente, de nomes como Aguinaldo Silva, Gilberto Braga, Benedito Ruy Barbosa, Manoel Carlos e Lauro César Muniz, na sua maioria advindos do jornalismo, atualmente não foram capazes de prender a atenção do público.

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Começando por Lauro César Muniz, atualmente com 82 anos, já escreveu sucessos na Globo na década de 80 e 90, como O Salvador da Pátria e Zazá e na Record, escreveu Poder Paralelo em 2009, uma das maiores audiências da emissora, com média de 15 pontos. Em 2012, amargou o fracasso com a confusa Máscaras, também na Record, com média de 6 pontos no Ibope. Foi sua última novela e ele até foi contratado pela Globo em 2015, mas logo o dispensaram antes mesmo de apresentar uma sinopse. 

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Benedito Ruy Barbosa, conhecido por escrever novelas rurais, fez sucesso com o Rei do Gado, em 1995, posteriormente escreveu as memoráveis Terra Nostra e Esperança, ambas com médias acima dos 45 pontos. Atualmente o autor tem  88 anos e em 2014, arriscou-se com a lúdica Meu Pedacinho de Chão no horário das 18h, uma novela extremamente diferente de tudo que a Globo já produziu, com figurinos exagerados, personagens caricatos e cenários que pareciam casinhas de bonecas, mas que fracassou na audiência, considerada até hoje como um dos grandes fiascos das 18h. Em 2016, Benedito, com a colaboração da sua filha Edmara Barbosa e seu neto, Bruno Luperi, escreveram a poética Velho Chico, uma novela com muito primor estético, mas muitas tragédias nos bastidores, principalmente com a morte do protagonista da trama, Domingos Montangner, afogado no Rio São Francisco. A novela amargou míseros 28 pontos, bem abaixo do esperado pelo horário e Benedito entregou os rumos da história a Edmara e Bruno antes do final.

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Manoel Carlos, o eterno Maneco, com 86 anos, escreveu verdadeiras crônicas do cotidiano das pessoas do Leblon, Copacabana e Ipanema em suas novelas. Sucessos estrondosos como Por Amor em 1998, Laços de Família, 2000, Mulheres Apaixonadas 2003. Todas marcaram índices acima dos 50 pontos. Maneco "perdeu" a mão com seus trabalhos seguintes e visivelmente começou a se repetir. Sua última novela, Em Família, 2014, encerrou o ciclo das Helenas de forma constrangedora. A novela foi alvo de reclamações do público e da crítica especializada, acusada de ser chata e sonolenta, marcou média final de 31 pontos, abaixo da meta da emissora.

Foto: arquivo Globo

Gilberto Braga, atualmente com 74 anos, foi responsável por muitos sucessos como novelista. Escreveu Vale Tudo em 1988, em parceria com Aguinaldo Silva, Celebridade em 2003, considerada umas das maiores audiências da década de 2000, com índices na casa dos 50 pontos. Em 2010, Gilberto escreveu, em parceria com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, Insensato Coração, que começou a dar indícios que o autor não era mais o mesmo de anos anteriores e desestabilizando a audiência com médias de 33 pontos, o que não era bom para a Globo na época. Em 2015, repetindo a mesma parceria de Insensato Coração, escreveu Babilônia, uma novela confusa e sem nenhum atrativo, perdeu várias vezes para os Dez Mandamentos, novela  bíblica da Record. Amargou míseros 25 pontos de média e é considerada até hoje a pior novela das 21h da Globo de todos os tempos. Gilberto terá a oportunidade de dar a volta por cima no horário das 18h ainda esse ano, com a adaptação de um romance britânico de William Makepeace,, um clássico da literatura, provisoriamente chamado de Feira das Vaidades.

Para finalizar essa lista de ex-medalhões que ficaram perdidos no tempo, citamos o polêmico Aguinaldo Silva, atualmente com 76 anos. Silva foi responsável por novelas memoráveis de realismo mágico, como Roque Santeiro, Tieta, Pedra sobre Pedra, A indomada, Porto dos Milagres. Em 2004, saiu desse gênero de realismo mágico e escreveu uma novela contemporânea e urbana, a inesquecível Senhora do Destino, que marcou 60 pontos no Ibope e é considerada a maior audiência da década 2000. Após essa novela, Aguinaldo não conseguiu muitas proezas e apenas fazia remakes dele mesmo. Em 2018, escreveu seu último trabalho, O Sétimo Guardião, altamente rejeitada pelo público e pela crítica, marcando apenas 28 pontos de média. O fracasso resultou na sua não renovação de contrato na Globo, tendo em vista que seu salário era um dos mais altos da casa.
Devido serem de uma outra época, carregam e reproduzem preconceitos inconcebíveis nos dias de hoje, ficaram parados no tempo, não souberem se reinventar.

Walcyr Carrasco, com 68 anos, Glória Perez, com 71 e João Emanuel Carneiro, com 49, estão na ativa e ainda fazem sucesso, elevam a audiência, mas já demonstram o peso e o cansaço natural da idade.

Por Patrick Álisson de Sousa

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