Por que as séries são supervalorizadas e as novelas demonizadas

É notável que o brasileiro adora sentar em frente a TV para assistir algum programa de entretenimento, em especial novelas e séries. Há alguns anos, a "galinha dos ovos de ouro" das emissoras de TV aberta, o gênero novela, passou por muitas transformações e o seu público também. Desde o fim da década passada, de 2009 para 2010, começaram a surgir e bombar mundialmente as plataformas de streaming, oferecendo uma infinidade de séries de vários gêneros diferentes, o que angariou o público mais jovem e de classe média. As novelas vêm se tornando sinônimo para pessoas de classe mais baixa que não podem assinar Netflix, Amazon ou GloboPlay, no entanto, atualmente, estão cada vez mais híbridas: uma junção do formato série com o velho e bom folhetim.
Com capítulos cada vez mais curtos em duração, tendo em vista que na década passada, as novelas tinham em média 180 a 220 capítulos e duravam 9 meses no ar, atualmente tendem a ter no máximo 160 a 150 capítulos e duram 5 a 6 meses no máximo. A fotografia, o enquadramento e as atuações mudaram, no entanto a velha fórmula folhetinesca continua a mesma: as histórias são sempre um casal protagonista que é infernizado por uma vilã cruel, filhos desaparecidos, traições imperdoáveis, vingança ou alguém que fica rico da noite para o dia. 
Já as séries são mais bem elaboradas, pois diferentemente das novelas, que são escritas de acordo com a exibição diária e correspondem diretamente à audiência, elas tendem a ter mais tempo para elaborar um texto primoroso, caprichar nos efeitos especiais e visuais, escalar elenco estelar, construir cenários realistas e locações incríveis. É inconcebível as injustiças dadas às novelas, sendo que elas são genuinamente brasileiras, exaltam nossa cultura e refletem nosso povo, nosso modo de viver, coisa que as séries não fazem. Podemos citar como exemplo, duas séries que no fundo não passam de dois grandes novelões daqueles bem dramalhões mexicanos. 
A primeira é La Casa de Papel, que em 3 temporadas exibidas atualmente na Netflix, conta a história do mirabolante plano de invasão à casa da moeda da Espanha, em que uma trupe de ladrões rende policiais e faz vários reféns no prédio. Na primeira temporada, o roteiro é muito condizente com as conveniências da trama e os episódios se arrastam muito. Na segunda temporada, há furos inexplicáveis por parte dos roteiristas, sem falar nas situações mais surreais e inverossímeis possíveis. Em breve a Netflix vai postar a quarta temporada. 

Foto: reprodução internet 


A segunda série que podemos citar é Lúcifer, que poderia ser facilmente uma novela das 4 da tarde no México. Conta a história entediante do diabo que desistiu de ser o rei do inferno e veio morar em Los Angeles, conhece a detetive Decker e passa a investigar misteriosos assassinatos dos mais variados tipos e motivações. Como a série é produzida por Jerry Bruckheimer, também produtor de séries parecidas como CSI: Investigação Criminal, CSI Miami, CSI NY e Arquivo Morto, o clima de mais do mesmo é bastante notório.

Foto: reprodução internet 

De maio a novembro de 2019, a Globo exibiu a novela A Dona do Pedaço, escrita por Walcyr Carrasco e dirigida por Amora Mautner. A Dona do Pedaço contava a história de famílias rivais de justiceiros do Espírito Santo, em que a jovem Maria da Paz tem seu noivo alvejado por um tiro no dia do seu casamento, pela sua própria avó Dulce e o faz ir embora para São Paulo, para não sofrer retaliações da família do suposto morto. Ao chegar na capital paulistana, Maria da Paz se torna empreendedora e fica rica vendendo bolos, cria a filha Josiane, que é a grande vilã e assassina da trama. A Dona do Pedaço era uma produção duvidosa, pois seu texto pobre e personagens rasos causaram grande alvoroço nas redes sociais, no entanto, a novela foi um tremendo sucesso, encerrando com 45 pontos no Ibope. Vale relembrar que tinha filtros de séries, cenas soturnas, em especial aos do bairro Bexiga, núcleos enxutos e caráter puramente de entretenimento, assim como a maioria das séries.  
Então, após esses argumentos, o que teria levado boa parte dos brasileiros a terem uma certa vergonha em assistir novela? Tendo em vista que esse gênero não morrerá nunca, pois a própria Netflix pretende produzir. Série não é sinônimo de cultura ou intelectualidade, é igualmente um produto para determinado público (nicho) com a única finalidade de fomentar a indústria da cultura para massas. 


Foto: Gshow


Por Patrick Álisson de Sousa



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