Marcos Soares: a ascendência da literatura homoafetiva no Brasil

 Marcos Soares / Foto: arquivo pessoal do escritor


Em entrevista exclusiva ao blog, o escritor  Marcos Antônio Soares da Silva, de 49 anos,  formado em biblioteconomia e bibliotecário da UFPE, libriano, natural de Maceió - AL, reside atualmente em Recife - PE, nos revelou seu posicionamento político atual: "O país está uma nuvem de coisas ruins para o seu povo, com uma política neoliberal de Estado mínimo e retrocesso no social e no cultural, com uma economia incerta. Mas tenho fé que essa nuvem familiar e de agregados vai passar e o Brasil vai voltar a crescer junto com seu povo!"

Marcos tem  dois livros LGBT publicados: O Cafuçu e o Diário de Marjorie. Indagado  sobre o que  pensa acerca do crescimento desse gênero num país ainda tão homofóbico, o escritor foi sincero: "Temos algumas editoras com seguimento LGBT, há um público diverso para leitura, mas percebo por parte de muitas livrarias a falta de cuidado com essa temática, até um certo preconceito, já vi romances LGBT na estante de Saúde e Sexualidade, em uma certa livraria famosa. E também  é um tabu nas escolas de ensino médio, exceto O Ateneu de Raul Pompéia e o Bom Criolo (1895) de Adolfo Caminha, romance considerado o primeiro na literatura ocidental LGBT por alguns especialistas."

Questionado sobre escrever outros projetos desse gênero, o autor disse: "Meu próximo livro de Contos: Kadupul já esta pronto (os originais) pretendo lançar em setembro de 2020 nos meus 50 anos, se Deus permitir. São contos diversos divido em duas parte: Esboço e Carnaval, de temática heteroafetiva e homoafetiva, tenho dois livros de contos já publicado, que também é de contos diversos, Praças: contos e 16 histórias à procura de um leitor. E também comecei a escrever um romance de fundo social Cana de açúcar, onde quero abordar a homossexualidade depois dos 60 anos, onde o casal de protagonista se descobre seus desejos ou desperta na fase madura da vida. Mas está no inicio só escrevi dez páginas...."

O autor informou que já teve propostas para adaptação de suas obras para sua o cinema, mas que o projeto está estagnado devido a atual conjuntura do país: "Meu livro o Cafuçu virou roteiro cinematográfico, fiquei super feliz; li o roteiro ficou ótimo, a principio era um cineasta baiano, ele chegou até fazer um vídeo de chamada no Youtube, mas o projeto parou. Daí apareceu um pernambucano também interessado, mas como depende dos editais de fomentos à cultura, que no momento sabemos que o governo está excluindo essa temática, na cultura, e está diretamente atrelado ao conservadorismo e a religião."

Soares tem cinco livros publicados no momento, que são: Bibliotecário bar, O Cafuçu, O Diário de Marjorie, Praças Contos e 16 histórias à procura de um leitor. Os romance pela Editora Metanoia do Rio de Janeiro e os de contos pela Editora da UFPE.  

Foto: reprodução internet

Em desabafo, relatou que há muitos desafios para um escritor anônimo publicar no Brasil: " O desafio é seu livro circular nas livrarias, hoje temos a ajuda da internet para divulgação, mas não é o  suficiente, diferente de alguns países onde a figura do agente literário é predominante para fazer sua obra circular e ficar conhecida. Também tem a questão das grandes e pequenas editoras e das editoras não comerciais, as universitárias; isso influencia no alcance da obra para população. Tive sorte no primeiro romance e no segundo quanto a divulgação, do qual eu mesmo fiz o papel de agente literário, e o Cafuçu foi o que mais teve uma recepção calorosa e já está na segunda edição."

O autor nos relatou que a recepção de suas obras sempre foi muito positiva, exceto um episódio esporádico de uma amiga: "Por parte da comunidade LGBT, a maioria gostou da história, agora  houve um episódio com uma amiga de longas datas, devido a sua religião ela tocou fogo no livro O Cafuçu e ainda guardou as cinzas para me mostrar. Respirei fundo e segui adiante, um escritor está sujeito a todos tipos de sensatez e insensatez, é preciso encarar o contexto do qual seu livro está sendo julgado ou apreciado."

Indagado sobre o que acha do mercado literário - editoras e público leitor - nacional acerca das ideologias e do preconceito ainda existente, Soares disse que sim: "São por isso que temos mais de 4 editoras de temáticas LGBT, e se o autor for generalista o público até ler, mas se for rotulado como escritor de gênero LGBT, muitos não ler, exceto as mulheres, elas são mais sensíveis às obras LGBT, independente da sua orientação sexual, exceto as religiosas... mas também podem ler escondidas. Um amigo paulista  comprou o  Diário de Marjorie, tirou foto na livraria, mandou para eu colocar na página do livro, e depois disse: “Não consegui terminar o livro, não tem nada haver com meu universo” e passou adiante.

Foto: reprodução internet

O autor ainda não recebeu nenhum prêmio por suas obras literárias, no entanto: "Para mim foi um prêmio quando descobri, por acaso, que O Cafuçu foi um dos livros analisado no mestrado acadêmico de um leitor na Universidade Estadual do Piaui sobre o titulo: Identidades homoafetivas do negro na literatura brasileira contemporânea, do pesquisador Rubenil da Silva Oliveira. No doutorado ele usou outros livros para análise, entre eles, O Diário de Marjorie : memória de uma travesti, na tese: IDENTIDADES HOMOAFETIVAS NA PROSA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA. Então, para mim, considero um prêmio ter minhas obras analisadas pela academia do ponto de vista da literatura, e na verdade, já concorri e  fui selecionado para prêmio literatura, com o romance Diário de Marjorie, na Biblioteca Nacional, mas infelizmente, não ganhei.


Por: Patrick Álisson de Sousa


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