O funk: de um grito da comunidade ao consumo da cultura de massa
É evidente que a cultura para massas, relacionada ao estilo musical funk, se tornou
presente em vários espaços atualmente e a mesma trás consigo uma carga de representatividade incutida.
O termo funk surgiu inicialmente em 1967, nos EUA, criado por James Brown, como
ritmo musical negro originado da black music, soul e algumas influencias de
R&B, e se popularizou no Brasil a partir da década de 80 nas comunidades
cariocas, quando começaram a ser promovidos bailes funk aos domingos, no
Canecão – Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.Os bailes da pesada tinham um
público estimado em cinco mil pessoas, que vinham das mais diversas áreas da
cidade e eram comandados pelos DJ's Big Boy e Ademir Lemos. Os bailes chegaram
ao fim quando a direção do Canecão teve a oportunidade de fazer shows com
grandes nomes da Música Popular Brasileira.O funk, na sua época inicial, tinha
objetivos genuínos de denunciar em suas letras a truculência da polícia contra
moradores das comunidades, dar visibilidade aos negros e favelados como
condições de subsistência, enaltecer uma cultura marginalizada das pessoas que
tiveram pouco acesso a outros meios culturais e educacionais.No
entanto, atualmente as letras de funk fazem mais apologias ao sexo, incitam a misoginia
e submissão de mulheres, LGBT, algumas letras até exaltam o poder do crime, do
tráfico e da ostentação dos traficantes.Esse gênero, apesar de mobilizar
grandes massas e ser considerado, atualmente, como popular, ainda é alvo de
preconceito por parcelas da sociedade. As
influências que sobreviveram na época de introdução do ritmo no Brasil deixaram
poucas heranças, como as letras animadas e dançantes. Hoje, é nitidamente
privilegiada a batida e as letras chicletes, de fácil memorização, o que
justifica o sucesso rápido e viralização nas mídias sociais digitais.
Os meios de comunicação têm o poder
de massificar e transformar o que é único, genuíno e autêntico em meras
reproduções para as massas, tirando suas características iniciais. Segundo
Adorno (1986), a indústria cultural se caracteriza pela combinação da
capacidade técnica de reprodução massificada das produções artísticas e da
concentração de poder econômico e administrativo nas mãos de algumas poucas
empresas, que atuam no sentido de integrar os consumidores a partir do alto, ou seja, a mídia exerce poder de dominar e se apropriar
de uma cultura que em determinada época foi marginalizada ou que não teve tanta
adesão social.
Os
meios de comunicação de massa, por meio de auto referência ou mobilização
através da empatia popular, exercem poder de influenciar a sociedade ou
determinado nicho dela para o consumo de determinados produtos, ou culturas,
como é caso do funk: originalmente uma manifestação cultural de minorias e que
tinha claro objetivo denunciativo, que agora passa a ser elitizado, protagonizado
muitas vezes por pessoas de
Foto: reprodução internet
A indústria cultural destina
análise crítica de bens simbólicos em escala industrial. A produção e promoção publicitária
acarretaram na homogeneização dos padrões de gastos, proporcionando uma
deteriozição da kulter genuína e como exemplos dessa influência da indústria cultural, podemos citar Anitta e Ludmilla.
Nascida Larissa de Macedo Machado, a cantora Anitta teve um começo
difícil. De origem humilde, as dificuldades financeiras marcaram sua infância.
A cantora, no entanto, conseguiu impulsionar sua carreira a nível nacional com
o hit Show das Poderosas e, mais tarde, atingiu o mercado internacional com
parcerias pontuais em seu projeto Check Mate, que levou o funk carioca para o
mundo inteiro. A carreira da cantora pode ser dividida em momentos a partir dos
nomes que usou durante esse caminho. De Larissa, estudante e trabalhadora comum
a MC Anita, produzida pela Furacão 2000 e, mais tarde, Anitta, personalidade
nacional. Administradora de sua própria carreira, a cantora provou ser uma
empresária muito capaz no meio musical e audiovisual.
No caso de Anitta, que iniciou
sua carreira no ano de 2011, na empresa Furacão 2000, cantava músicas de sua
autoria e compostas por outros compositores. Os empresários da artista
começaram a divulgar os vídeos e os mesmos viralizaram, ganhando repercussão
nacional e internacional com milhões de acessos no Youtube. A partir daí Anitta
com sua voz soprano, conquistou uma legião de fãs no Brasil e atualmente faz
carreira internacional. Em 2017, ela e Pabllo Vittar gravaram um clipe da
música Sua Cara, com Major Laser, no Marrocos, obtendo bilhões de visualizações.
Uma verdadeira jogada de marketing, pois tanto ela como Pabllo são LGBT e
tiveram infância difícil financeiramente. Em 2019, Anitta quebrou mais um
paradigma, participando do Rock In Rio, um evento que tradicionalmente
valorizava apenas o Rock.
No caso de Ludmilla, também foi
lançada artisticamente pela empresa Furação 2000, a mesma que lançou Anitta
basicamente no mesmo período, porém Ludmilla rompeu contrato e foi para a Som
Livre, posteriormente para a Warner.
Com a possibilidade de ambas
utilizarem as redes sociais e mídias alternativas para ascenderam no meio
cultural e artístico, as duas ainda são negras, vieram de famílias pobres e
comunidades periféricas do Rio de Janeiro, são assumidamente bissexuais e
feministas, o que levam a uma representatividade dos públicos que elas
representam, no entanto, as grandes produtoras que hoje investem pesado na
carreira delas com o objetivo de lucrar, destoam claramente do funk raiz,
apesar que as letras de suas músicas ainda tem forte apelo sexual, e elas são
responsáveis pela popularização da funk entre a elite e pessoas brancas,
héteros e etc.
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